"Que tipo de mundo queremos
deixar a quem vai suceder-nos, às crianças que estão a crescer?" Este
interrogativo é o âmago da Laudato si’, a aguardada Encíclica ecológica do Papa
Francisco.
O nome foi inspirado na invocação
de São Francisco "Louvado sejas, meu Senhor", que no Cântico das
Criaturas recorda que a terra "se pode comparar ora a uma irmã, com quem
partilhamos a existência, ora a uma mãe, que nos acolhe nos seus braços".
Agora, esta terra maltratada e saqueada se lamenta e os seus gemidos se unem
aos de todos os abandonados do mundo.
No decorrer de seis capítulos, o
Papa convida a ouvir esses gemidos, exortando todos a uma "conversão
ecológica", a "mudar de rumo", assumindo a responsabilidade de
um compromisso para o "cuidado da casa comum".
O Pontífice se
dirige certamente aos católicos, aos cristãos de outras confissões, mas não só:
quer entrar em diálogo com todos, como instrumento para enfrentar e
resolver os problemas.
Eis alguns temas
analisados na Encíclica:
As mudanças climáticas
"As mudanças climáticas são
um problema global com graves implicações ambientais, sociais, econômicas,
distributivas e políticas, e constituem um dos principais desafios atuais para
a humanidade". Se "o clima é um bem comum, um bem de todos e para
todos", o impacto mais pesado da sua alteração recai sobre os mais pobres.
A questão da água
O Pontífice afirma claramente que
"o acesso à água potável e segura é um direito humano essencial,
fundamental e universal, porque determina a sobrevivência das pessoas e,
portanto, é condição para o exercício dos outros direitos humanos". Privar
os pobres do acesso à água significa "negar-lhes o direito à vida radicado
na sua dignidade inalienável".
A dívida ecológica
No âmbito de uma ética das
relações internacionais, a Encíclica indica que existe uma verdadeira “dívida
ecológica”, sobretudo do Norte em relação ao Sul do mundo. Diante das mudanças
climáticas, há "responsabilidades diversificadas", e as dos países desenvolvidos
são maiores. O Papa Francisco se mostra impressionado com a "fraqueza das
reações" diante dos dramas de tantas pessoas e populações.
A raiz humana da crise
ecológica
O ser humano não reconhece mais a
sua correta posição em relação ao mundo e assume uma posição auto-referencial,
centrada exclusivamente em si mesmo e no próprio poder. Deriva então uma lógica
do "descartável" que justifica todo tipo de descarte, ambiental ou
humano que seja.
Mudança nos estilos de
vida
A Encíclica retoma a linha proposta
na Evangelii Gaudium:
"A sobriedade, vivida livre e conscientemente, é libertadora". O Papa
propõe mudanças nos estilos de vida, através da educação e da espiritualidade.
Uma educação ambiental que incida sobre gestos e hábitos quotidianos, da redução
do consumo de água, à separação do lixo até "apagar luzes
desnecessárias". Para Francisco, "uma ecologia integral é feita
também de simples gestos quotidianos, pelos quais quebramos a lógica da
violência, da exploração, do egoísmo". O Pontífice recorda, porém, que
tudo isto será mais fácil a partir de um olhar contemplativo que vem da fé:
"O crente contempla o mundo, não como alguém que está fora dele, mas
dentro, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres".
O coração da proposta da Encíclica
é a ecologia integral como novo paradigma de justiça; uma ecologia "que
integre o lugar específico que o ser humano ocupa neste mundo e as suas
relações com a realidade que o circunda".
A esperança permeia todo o texto
e, segundo Francisco, não se deve pensar que esses esforços não mudarão o
mundo. A crise ecológica, portanto, é um apelo a uma profunda conversão
interior. Pode-se necessitar pouco e viver muito.
Fonte: Rádio Vaticano
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